A mulher que não parava de cuspir...

 Vocês precisam conhecer a Creusa, uma vizinha que tive no interior de Goiás. Desde o começo da gravidez sua cunhada, Geralda, começou a padecer um enjoo horrível. Então pegou uns modos muito feios, muito deseducados! O de ficar cuspindo a toda a hora!

A cada meia dúzia de palavras ela precisava parar para cuspir! Tinha até um lenço ao alcance da mão para ir limpando a boca o tempo todo. A coisa começou a ficar complicada. O maridão, sujeito truculento, já estava ficando muito bravo com aquilo:

– Você não fica com a boca seca de tanto cuspir? Não aguento ver você com este costume estúpido. Vou levar você ao médico para ele ver isso! Irrita demais!

Ele era já estava muito nervoso e parecia que – ele era um tipo muito violento – iria tomar uma atitude agressiva.

Creusa havia percebido a proximidade de uma crise conjugal em crescimento e havia dito à amiga que precisava parar com este hábito. Muito abatida, a moça dizia que já havia tentado várias vezes, mas não conseguia interrompê-lo. Rezas, promessas, velas, passes, benzeduras, não haviam funcionado. Decidiu chupar umas balas, comer uns doces, nada havia adiantado. Dizia que não tinha nenhum problema na boca, nenhum gosto ruim, não havia comido nada estranho, só que continuava cuspindo e cada vez mais frequentemente. Preocupada, ela falou:

Olha, Geralda, conheço uma pessoa que sabe umas simpatias muito boas. Ela pode ajudar você. Quer que eu fale com essa mulher?

Quase chorando de ansiedade e de medo a moça concordou. Então ela pegou o celular e, fingindo que teclava um número, fantasiou uma conversa:

Dona Carmencita, boa tarde. Aqui é a Creusa. A senhora conhece uma simpatia que possa ajudar uma amiga a parar de cuspir? Ela não consegue acabar com este costume. Isto começou desde que engravidou, há um mês ou dois. O marido dela já está ficando furioso. O cara é complicado. A coisa pode acabar mal!

Depois de fingir que escutava uma fala ela continuou a “conversa”: 

Como? Ah, está bem. Com a mão direita? E não pode errar, não é? Já anotei. Vou ensinar tudo isto para ela. Espero não esquecer alguma coisa.

Depois de “desligar” o telefone repassou a receita da simpatia:

Olhe, Geralda, é muito fácil. Você tem que pegar um copo de vidro – precisa ser de vidro, não pode ser de plástico! – e encher com água, até chegar mais ou menos a dois terços da altura. Mas tem que pegar o copo com a mão direita. Depois, você passa o copo para a mão esquerda, coloca duas colheres de açúcar – não pode ser colher grande, precisa ser colher de café – e mistura girando para um lado só – não pode voltar com a colher na outra direção. Aí, deixa sobre a mesa da sala de jantar com um pires em cima para não cair pó. Cada vez que você tiver vontade de cuspir, corre lá e toma um gole, pequeno, de água. Dona Carmencita garante que funciona! Ela entende destas coisas. O resultado vai aparecer no fim do dia! Mas tome cuidado. Deve ser feita exatamente assim! Se não, a simpatia não funciona.

Geralda enxugou as lágrimas teimosas e ficou cismando. Sempre havia dito que não acreditava em simpatias. Para ela, tudo isso era superstição, coisa de gente, simplória, sem instrução. Mas, como já havia tentado uma porção de coisas para se livrar do vício, por via das dúvidas resolveu seguir as instruções. Escreveu-as em uma agendinha que possuía e deixou sobre a mesa da sala. Não queria esquecer qualquer coisa ou confundir o que Creusa lhe havia passado. Imagine se deixasse de tomar um gole em algum momento? Ou, se em vez de misturar sempre para um lado, se esquecesse e misturasse para o outro?

Naquela noite ela telefonou para Creusa, chorando ainda, mas agora de alegria.

Sabe, Creusa, funcionou mesmo! Parei de cuspir! Que maravilha...

Se vocês não quiserem acreditar, é problema seu. Eu também não acreditei. Meu amigo Armando, que é psicólogo, disse que isto pode acontecer realmente. A Geralda e a Creusa existem mesmo. Só não posso revelar seus nomes verdadeiros nem onde moram. Os vizinhos dela conhecem esta história. Elas são muito populares por lá. Iriam brigar comigo...

 

 

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