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Mostrando postagens de novembro, 2020

Primeira manhã de lua de mel

  Onde é que ele tinha ouvido aquele pássaro? Apurou o ouvido. Não era apenas um, mas muitos. Bem-te-vis! Sim, bem-te-vis! Cantavam, uns convocando os outros, e o coro que formavam enchia a manhã com uma sensação de felicidade, de alegria, com uma vontade de cantar também, uma destas sensações maravilhosas que a gente não consegue descrever. Algo assim como estar na terra e no céu ao mesmo tempo. Arnaldo se espreguiçou na cama em desalinho. Cecília dormia ainda. A madrugada deles tinha sido cheia de carinho e de amor. O corpo cansado exigia um sono restaurador naquela primeira manhã de lua de mel. Tinha muito tempo pela frente. Dava para ficar na cama, ali, quieto, sem qualquer outra preocupação, nem tomar café. Ele contemplou Cecília adormecida. Passou a mão por seus cabelos macios. Pareciam de criança. Ela não se mexeu. Com ternura ele se recostou sobre um cotovelo e olhou o rosto dela de alguma distância. Os bem-te-vis continuavam a cantar. E ele também. Por dentro! Parecia im

O sorriso triste do Zé Correia...

  Pode parecer coisa tola para vocês. Para mim, é muito importante. O que vou lhes contar não acontece todos os dias. Quem conheceu o Zé Correia como eu, sabe que existe pouca gente feito ele. E não é tanto por causa das ideias dele, não. Houve outros que pensaram da mesma maneira. É, mas era tudo pessoal de importância, doutores, professores, até santos. Zé Correia não era nada disso. E daí porque eu acho muito importante tudo isso que vou contar. Pra começar, preciso dizer o que o povo pensava dele. Alguns achavam que ele era meio maluco. Talvez fosse, não sei. Deus é quem sabe. Outros achavam que ele fazia aquilo para chamar a atenção, um jeito de fazer com que as pessoas olhassem para ele e lhe dessem valor. Mas estes estavam errados, posso garantir. Não posso dizer que ele fosse inteiramente certo da cabeça, mas posso jurar que, aquilo que ele falava, a maneira como agia diante de todo mundo, era exatamente a mesma coisa que ele falava e fazia quando estava sozinho. Digo isso, p

Por que Tonico não voltou a Santa Rita?

Meteu a mão no bolso e tirou o papel, meio amarrotado já, de tanto ser trocado de lugar, dobrado nesta e noutra forma, o pé direito descansando sobre a velha mala de fibra. Não havia dúvida. A rua era aquela mesma, Rua Vespasiano, bairro da Lapa, São Paulo. Mas, e o número? No lugar em que devia logicamente haver uma casa e necessariamente uma numeração, só um terreno cercado de tabiques de madeira. - A senhora sabe me dizer se naquele lugar onde vão construir um prédio, aqui ao lado, morava um senhor de nome Nicolau? - Olha, moço, aí morava a família do Seu Laláu. Eu nunca soube o nome dele, mas talvez fosse esse. Casado com D. Dininha. O nome dela eu sei, era Leopoldina, mas todo mundo conhecia ela por Dininha. - São eles mesmos. São meus tios. Eu sou de Minas, sabe, cheguei hoje do interior. Vim passar uns dias com eles, até mandei um telegrama. Cheguei aqui e não existe a casa deles. - É, eles se mudaram faz dois ou três meses. Disseram que depois iam me mandar o endereço,