Onoda-san vai visitar seu túmulo!

E tinha todo direito. Ele havia sido declarado desaparecido e morto em 1959 e sua família havia construído o simbólico monumento, certa de que ele havia morrido mesmo! 

Hiroo Onoda, filho de Tanejiro e Tamae Onoda, era um jovem japonês nascido em Kainan, Wakayama, em 19 de março de 1922. Aos 17 anos ele foi trabalhar em uma empresa comercial em Wuhan, na China ocupada pelos japoneses desde 1938. Aos 20 anos de idade, já um tenente no exército, Hiroo foi convocado para servir em uma difícil missão: desenvolver uma atividade de guerrilha e ser um espião em Lubang, uma ilha 93 milhas a sudoeste de Manila, nas Filipinas, em plena Segunda Guerra Mundial. Sua missão era tudo fazer para impedir que os americanos a tomassem. Desembarcou ali em 26 de fevereiro de 1944, devendo juntar-se a outros soldados e oficiais japoneses que já se encontravam por lá e liderá-los. Entre suas ordens estavam destruir o porto e o campo de aviação ali existente.


O jovem tenente Onoda

As ordens de seu superior, major Yoshimi Taniguchi, eram simples: Você está absolutamente proibido de se suicidar. Pode levar três anos, pode levar cinco, mas aconteça o que acontecer, nós voltaremos para buscá-lo. Até então, enquanto você tiver um soldado, você deve continuar a comandá-lo. Você pode ter que viver de cocos. Se for este o caso, viva de cocos! Sob nenhuma circunstância você pode desistir de sua vida voluntariamente.

Dois dias depois de sua chegada, os americanos invadiram e logo conquistaram Lubang. Os poucos militares japoneses que escaparam da luta se dividiram em grupos de 3 ou 4 homens e fugiram para a selva, mas quase todos foram gradativamente eliminados. Alguns sobreviveram, entre os quais o de Onoda e seus três companheiros, Yuichi Akatsu, Siochi Shimada e Kinshichi Kozuka. Fiéis ao Japão, eles continuaram sua atividade guerrilheira atacando os filipinos, racionando estritamente sua munição e seus suprimentos. Quando estes escassearam e terminaram, eles se alimentavam de bananas, cocos e outras frutas ou atacavam propriedades rurais para roubar o que pudessem, especialmente arroz e animais

Em outubro do ano seguinte, 1945, ao atacarem uma propriedade, encontraram um folheto escrito pelos habitantes da região. Estes estavam cansados de serem atacados pelo grupo: “A guerra acabou em 15 de agosto. Desçam das montanhas!” Impossível acreditar! Devia ser uma armadilha dos filipinos! Várias foram as tentativas que estes fizeram para que os japoneses ficassem sabendo do fim da guerra e desistissem da guerrilha. Até fretaram um avião para lançar folhetos sobre a floresta com uma ordem de rendição assinada pelo general Yamashita e recortes de jornais vindos do Japão. Tudo inútil!

Os dias se passaram. Viraram meses. E então viraram anos! Décadas mesmo. Um a um, os diversos militares foram sendo liquidados até que só sobrou o tenente Hiroo Onoda. Muitas expedições foram organizadas para localizá-lo e fazer com que ele se convencesse da derrota de seu país e do fim da guerra. No entanto, ele conhecia as florestas como ninguém e se escondia de todos os que o foram procurar.

Então em 1974 apareceu Norio Suzuki, um estudante universitário, tão aventureiro quanto estudante. Ele tinha decidido largar tudo no Japão e se meter pelo mundo a fora em uma busca inacreditável. Na lista de coisas para fazer em sua jornada estavam – por muito curioso que seja – encontrar “Onoda, um panda e o Abominável Homem das Neves”! É inacreditável, mas ele conseguiu descobrir Onoda e seu último esconderijo no meio da floresta! Uma imensa quantidade de pessoas havia tentado este feito nos 29 anos desde que o homem havia desaparecera, mas todas haviam fracassado! Ele tentou convencer o oficial japonês acerca do fim da guerra, mas este continuava incrédulo. Tinha a absoluta convicção de que se tal fosse verdade seu superior viria buscá-lo e não podia admitir algo diferente.

Suzuki retornou ao Japão com a notícia de que havia encontrado o tenente Onoda! Seu comandante, o major Taniguchi já aposentado, estava trabalhando como gerente de uma livraria. Ele foi levado à ilha e ao encontro de seu ex-comandado. Como superior deste, ele lhe ordenou que entregasse suas armas e se rendesse aos filipinos. Não havia como deixar de reconhecer a derrota de seu país e negar-se a cumprir aquela ordem. No dia 10 de março de 1975, em seu uniforme de oficial do exército japonês, Hiroo Onoda saiu da floresta para se entregar. Seu rifle Arisaka, de que ele havia cuidado todo este tempo ainda estava em condições operacionais. Ele ainda tinha 500 cartuchos de munição e diversas granadas de mão. Ainda guardava a adaga que sua mãe lhe havia dado para sua proteção em 1944. Levado a Ferdinand Marcos, então presidente das Filipinas, ele se entregou e passou-lhe suas armas, especialmente sua espada de samurai. Este perdoou o guerrilheiro oficialmente por seus crimes – ele havia morto pelo menos trinta pessoas, assaltado e roubado muita gente julgando que o fazia a inimigos – durante todo aquele tempo, mas o fizera julgando-se em guerra. 


O tenente Onoda ao ser encontrado e sair da selva!

Com a idade de 52 anos Onoda-san retornou finalmente ao Japão, depois de envolver-se nesta sua guerra pessoal durante quase trinta destes. A primeira coisa que fez ao chegar à sua terra foi visitar a pedra tumular que sua família havia erigido em sua memória. Como continuar uma vida depois de tantos anos de ausência em um país que havia mudado tanto desde que o deixara? Apesar de não se sentir à vontade – pois sempre se julgou alguém que não cumprira devidamente o seu dever! – ele foi recebido quase como um herói e muitos quiseram elegê-lo membro do Congresso nacional, o que ele recusou.

No mês seguinte a seu retorno, seguindo o exemplo de seu irmão Tadao, ele veio para o Brasil. Com a soma de seus soldos acumulados em todo este tempo ele comprou alguma terra e passou a criar gado. Em 1976 ele se casou com Machie Onoda (née Onuku) e assumiu papel de destaque na colônia agrícola japonesa de Jamic, na Comunidade Várzea Alegre, localizada em Terenos, Mato Grosso do Sul.

Em 1980, ao ler sobre um jovem de 19 anos que por haver fracassado no vestibular assassinara seus pais no Japão, ele decidiu voltar a seu país. Convicto de que a juventude havia perdido o senso dos tradicionais valores de sua sociedade, resolveu criar uma associação para a organização de centros educacionais em vários locais do país, o que ocorreu em 1984.

Em 1996, Onoda revisitou Lubang, em cuja selva havia vivido por 29 anos. Pelo apoio que deu à base da FAB em Campo Grande, permitindo o uso de suas terras para treinamentos, recebeu em 6 de dezembro de 2004 o reconhecimento militar brasileiro e a condecoração com a medalha Mérito de Santos-Dumont. Em fevereiro de 2010, a Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul conferiu-lhe o título de "Cidadão Sul-Matogrossense". Faleceu em 16 (ou 17, segundo outra fonte) de janeiro de 2014 com 91,6 anos de idade.

Podia agora ser enterrado na tumba que lhe fora dada por sua família!

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Fontes de consulta e das fotos:

https://www.nytimes.com/2014/01/18/world/asia/hiroo-onoda-imperial-japanese-army-officer-dies-at-91.html 

https://static01.nyt.com/images/2014/01/18/world/sub-onoda-obit/sub-onoda-obit-superJumbo.jpg?quality=90&auto=webp 

https://www.todayifoundout.com/index.php/2010/02/a-japanese-soldier-who-continued-fighting-wwii-29-years-after-the-japanese-surrendered-because-he-didnt-know/ 

https://en.wikipedia.org/wiki/Hiroo_Onoda

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hiroo_Onoda 

https://es.wikipedia.org/wiki/Hir%C5%8D_Onoda

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